“Veio sobre mim a mão do SENHOR, e ele
me fez sair no Espírito do SENHOR, e me pôs no
meio de um vale que estava cheio de ossos. E me fez passar em volta deles; e
eis que eram mui numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam
sequíssimos. E me disse: Filho do homem, porventura viverão estes ossos? E eu
disse: Senhor DEUS, tu o sabes. Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e
dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor DEUS a
estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e vivereis. E porei nervos
sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei
em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o Senhor. Então profetizei
como se me deu ordem. E houve um ruído, enquanto eu profetizava; e eis que se
fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso ao seu osso. E olhei, e eis
que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre
eles por cima; mas não havia neles espírito. E ele me disse: Profetiza ao
espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor
DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que
vivam. E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito entrou neles, e
viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo. Então me disse: Filho
do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos
se secaram, e pereceu a nossa esperança;
nós mesmos estamos cortados. Portanto profetiza, e dize-lhes: Assim diz
o Senhor DEUS: Eis que eu abrirei os vossos sepulcros, e vos farei
subir das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. E
sabereis q ue eu sou o Senhor, quando eu
abrir os vossos sepulcros, e vos fizer subir das vossas sepulturas, ó
povo meu. E porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos porei na vossa terra;
e sabereis que eu, o SENHOR, disse isto, e o fiz, diz o SENHOR” (Ezequiel
37:1-14).
No início da vida o profeta
Ezequiel havia sido testemunha de cercos e campos de batalha; ele próprio
experimentara muitos dos horrores e calamidades da guerra; e isso parece ter marcado
o seu caráter natural, de tal forma que suas profecias, mais do que quaisquer
outras, estão cheias de imagens terríveis e visões de coisas temíveis. Com
estas palavras, temos a descrição de uma visão que, por sua grandeza e terrível
sublimidade, é, talvez, inigualável em qualquer outra parte da Bíblia. Ele se
descreve como posto por Deus no meio de um vale que estava cheio de
ossos. Era como se ele estivesse colocado
no meio de algum espaçoso campo de batalha, onde milhares e dezenas de
milhares foram mortos, e ninguém deixado para trás para enterrá-los. As águias
haviam muitas vezes se reunido sobre os cadáveres, e ninguém as havia repelido,
e os lobos das montanhas tinham comido a carne daqueles homens fortes, e bebido
o sangue dos príncipes. As chuvas do céu tinham branqueado tais ossos, e os ventos
que sopravam sobre o vale aberto os tinham desnudado; e um intenso sol de verão
havia embranquecido e secado os ossos. E enquanto o profeta esteve em
redor e por perto de modo a ver a triste cena, esses dois pensamentos
surgiram em sua mente: “Eis que eram mui numerosos sobre a face do vale, e
eis que estavam sequíssimos”.
Se o local não fosse um vale aberto,
poderia ter parecido ao seu olhar admirado algum vasto sepulcro, como se os túmulos de todos os
Faraós fossem desvelados por algum choque da natureza, pelos fortes
ventos do céu; como se a mão arbitrária da violência houvesse saqueado os
vastos cemitérios do Egito, e lançado os ossos mumificados de outras eras para
clarear e branquear à luz do céu. Quão expressivas são as breves palavras
do profeta:
“Eis que eram mui numerosos sobre
a face do vale, e eis que estavam sequíssimos”.
Sem dúvida, houve um terrível
silêncio propagado sobre esta cena de desolação e morte; mas a voz do seu Guia
celeste rompe em seu ouvido: “Filho do homem, porventura viverão estes ossos?”.
Que estranha pergunta foi esta
feita em relação aos ossos branqueados e secos! Quando Jesus disse da menina:
“Não está morta, mas dorme” [Lucas 8:52], eles riram dEle, com escárnio; mas
aqui não eram corpos recém-mortos, mas ossos, ossos descobertos, branqueados;
não, eles nem mesmo eram esqueletos, pois cada osso estava separado de seu
osso; no entanto, Deus pergunta : “viverão estes ossos?”. Se Ele tivesse
feito esta pergunta ao mundo, eles teriam rido como uma altíssima risada de
desprezo; mas Ele perguntou a alguém que, embora uma vez tenha estado morto,
havia sido vivificado por Deus; e ele respondeu: “Senhor DEUS, tu o sabes”.
Eles não podem viver por si mesmos, pois eles estão mortos e secos; mas se Tu
puseres o Teu Espírito de vida neles, eles viverão. Assim, então, só
Tu o sabes. Recebendo esta resposta de fé do profeta, Deus ordena a ele que
profetize sobre aqueles ossos, e lhes
diga: “Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor DEUS a estes
ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e vivereis. E porei nervos sobre
vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em
vós o espírito, e vivereis, e sabereis que
eu sou o Senhor”. Tivesse o profeta caminhado pela vista, e não pela fé,
ele teria duvidado da promessa, por causa da incredulidade. Se ele tivesse sido
um adorador da razão, ele teria argumentado: Estes ossos não têm ouvidos para
ouvir, por que eu deveria pregar-lhes: “Ouvi a palavra do Senhor?”. Mas
não, ele creu em Deus mais do que em si mesmo. Ele havia sido
ensinado “a suprema grandeza do seu poder”; e, portanto, ele obedeceu: “Então
profetizei como se me deu ordem”. Se a cena que Ezequiel primeiramente viu
era sombria e desolada, a cena que agora aparecia aos seus olhos era mais
sombria, ainda mais terrivelmente chocante: “E houve um ruído, enquanto eu
profetizava; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada
osso ao seu osso. E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a
carne, e estendeu-se a pele sobre eles por cima; mas não havia neles espírito”. Se
foi uma visão horrível antes,
ver o vale cheio de ossos, todos
lavados pelas chuvas e ventos, e clareados nos sóis de verão, quanto mais
horrível agora, ver aqueles mortos, osso unido ao seu osso, tendões, carne e
pele sobre eles; mas nenhum fôlego neles! Aqui estava um campo de batalha, de fato,
com seus milhares de mortos insepultos, massas de carne sem respiração, frias e
imóveis, prontas apenas para apodrecerem, cada mão rígida e imóvel, cada
seio, sem um suspiro, todos os olhos lustrosos e sem vida, toda língua fria e
silenciosa como um túmulo. Mas a voz
de Deus novamente quebra o silêncio: “Profetiza ao espírito (ou fôlego),
profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor DEUS:
Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que
vivam”.
Antes, Ezequiel se inclinara
sobre os ossos secos, mortos, e pregou a eles, uma congregação vasta,
porém sem vida, mas agora ele levanta a cabeça e levanta os olhos; porque a sua
palavra é ao Espírito do Deus vivo. A incredulidade pode ter sussurrado a
ele: “A quem você está indo profetizar agora?”. A razão poderia ter
argumentado: “que sentido há em falar com o Espírito invisível, a alguém a quem
você não vê”; pois está escrito: “O Espírito de verdade, que o mundo não
pode receber, porque não o vê nem o conhece” [João 14:17].
Mas ele não duvidou da palavra por
incredulidade: “E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito entrou
neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo”.
A
primeira aplicação feita sobre esta visão é a restauração dos Judeus. 1.
Ele ensina que, neste momento eles são como ossos secos no vale
aberto, espalhados por todas as terras, muitos e sequíssimos, destituídos da
vida de Deus. 2. Isso ensina que a pregação de Jesus, apesar de ser loucura
para o mundo, deve ser o meio de seu despertar, e que a oração ao Espírito
todo-vivificante deve ser o meio de sua nova vida. 3. Isso ensina que,
quando esses meios são utilizados com eles, o antigo povo de Deus deve levantar-se
ainda, e ser um exército grande em extremo, serão como eles costumavam ser
quando eles marchavam através do deserto, quando Deus ia adiante deles na coluna
de nuvem; de forma que eles serão, então, levados de volta para a sua terra, e
plantados em sua própria terra, e não mais arrancados. Mas outra, e para nós
mais importante, aplicação desta visão, é para as almas não-convertidas em
nosso meio. Sigamos por este ponto de vista.
I.
Almas não-convertidas são como
ossos secos: mui numerosas e sequíssimas. 1. Elas são muitas. Quando uma alma é
primeiramente trazida a Cristo, ela goza de uma paz na crença que ela nunca
havia conhecido antes; e não somente isso, mas ela é vivificada da morte em
delitos e pecados para uma vida que ela nunca conheceu anteriormente; ela
conhece a bem-aventurança de viver para Deus. Porém, mesmo com toda essa
alegria, há um sentimento terrível de
solidão; pois quando ela olha em volta do mundo, ela se sente exatamente
como Ezequiel, colocada em meio a um vale cheio de ossos secos. O homem
agora está vivo, mas este mundo, que uma vez foi toda a sua alegria, parece agora
com algum antigo campo de batalha, onde os restos dos mortos estão
todos lançados expostos em campo aberto; e ele se sente algo solitário em um
mundo de mortos. Este mundo agora aparece como um vasto sepulcro, onde gerações
inteiras de mortos se encontram, e são misturadas; todos semelhantemente
apropriados apenas para a queima; e ele se sente vivo e solitário,
movendo-se sobre as pilhas de mortos. Ele se sente como
Elias no monte de Deus, quando ele
reclamou: “Senhor Deus dos Exércitos... mataram os teus profetas à espada, e só
eu fiquei” [1 Reis 19:10]. Ele se sente como nosso bendito Senhor, que era uma
luz que brilha nas trevas, e as trevas não O compreenderam. Ele se sente “como
astros no mundo; retendo a palavra da vida” [Filipenses 2:15-16], como uma lâmpada
suspensa na mais densa escuridão, cujo óleo é totalmente fornecido pela graça do
alto, e cujos raios parecem apenas fazer a escuridão mais visível. Ele se sente
como Paulo em Atenas; pois o seu espírito se comovia por ele ver o mundo
inteiro entregue à idolatria. Ele se sente como Paulo em Roma, quando ele
declarou: “Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente
cuide do vosso estado; porque todos buscam o que é seu, e não o que é de
Cristo Jesus” [Filipenses 2:20-21]. Ele se sente como João, quando ele disse tão docemente, porém também mui
tristemente: “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no
maligno” [1 João 5:19].
Para o olho dos sentidos, oh,
como este mundo é vivo e feliz, com as suas lojas e mercados; seus
cumprimentos e empresas; as visitas de cerimônia e visitas de bondade; sua
alegria e sua melodia! Quão vivo e realista é o mundo inteiro, desde o raiar da
manhã até a meia-noite. Mas, para os olhos da fé, que deserto solitário é este
mundo! Pois, “todo o mundo está no maligno”. Não é assim, irmãos crentes? Ele
não é como Egito, naquela noite terrível, quando um grito foi ouvido em cada
habitação; porque não havia uma casa onde não houvesse um morto? Oh! Isso é
mais sombrio agora; pois em cada casa há muitas almas mortas, e ainda assim,
não há nenhum clamor. Olhe para a sua própria família; olhe entre as famílias
dos seus vizinhos; olhe para a sua cidade natal; não há nestes muitos mortos,
almas mortas? A maioria são ossos mortos, secos. Não, olhe para a Igreja Cristã;
olhe entre os nossos guardadores do Sabath, e aqueles que participam nos
sacramentos; oh, irmãos! não é verdade que, como Sardes, a maior parte das
pessoas têm um nome quem vive, e está morta? A maioria de vocês não vive uma
vida de deleites? E não está escrito: “Mas a que vive em deleites, vivendo está
morta”?
[1 Timóteo 5:6] Não é verdade que
a maioria de vocês não demonstra amor pelos irmãos? e não está escrito:
“Aquele que não ama a seu irmão, permanece na morte”? Oh, sim, a maioria são
ossos secos! Verdadeiramente, então, “eis que eram mui numerosos”.
2. Eles são sequíssimos. Ossos
secos estão muito além de toda a possibilidade de viver. (1) Eles são
desprovidos de qualquer carne ou beleza. (2) Eles não têm qualquer medula ou
espírito. (3) Elas não apresentam qualquer atividade ou poder de se moverem. E,
oh! Não é esta a própria imagem das pobres almas não convertidas, “eis que
estavam sequíssimos”?
(1) Elas são desprovidas de
qualquer beleza. Elas não veem a beleza em Cristo, e Cristo não vê beleza nelas;
as suas almas são magras e desfavorecidas. O homem foi feito
perfeito em beleza, a princípio; pois ele foi feito à imagem dAquele que é a
perfeita beleza; mas uma alma caída, não convertida não tem beleza; é como um
belo edifício em ruínas; é como uma bela estátua inteiramente quebrada,
não há nenhuma boa característica preservada; é como um corpo bonito ferido
pela morte, apodrecendo no túmulo.(2) Elas não têm qualquer medula ou espírito.
O homem foi feito para ser uma habitação de Deus através do Espírito; e é
somente quando somos guiados pelo Espírito que somos vivos para Deus. Mas a
alma não convertida é “sensual, não têm o Espírito” [Judas 1:19]. A Bíblia diz: “O
mundo não pode receber o Espírito Santo, porque não o
vê, nem o conhece”.
Eles
não têm nenhuma obra do Espírito no seu coração; nenhuma obra de despertamento;
nenhum convencimento da justiça; nenhuma obra de santificação; nenhum selo da
alma; nenhum andar no Espírito; nenhum amor no Espírito; nenhuma oração no Espírito
Santo. (3) Almas não convertidas não apresentam qualquer atividade ou poder de
se moverem em direção a Deus. Se nós pregamos a Palavra do Senhor para elas, as
mesmas não têm coração para atender às
coisas que são faladas; ossos secos não têm ouvidos. Se nós lhes dizemos
sobre a ira de Deus, que está vindo contra elas, elas não se comovem a fugir; ossos
secos não podem correr. Se nós lhes dizemos sobre a beleza do Senhor
Jesus, como Ele se oferece para ser seu completo Salvador, ainda assim
elas não são levadas a abraçá-lO; pois, ossos secos não podem estender os braços.
Ah! estes ossos secos estão sequíssimos. Irmãos, não é possível fazê-los
ansiosos a respeito de suas almas? Vocês podem permanecer e ouvir quão mortos e
secos eles são, e ainda irem embora e esquecer tudo isso? Vocês podem suportar carregar convosco uma pedra
morta em vosso seio, em vez de um coração? Vocês podem suportar terem
tal coração frio, gelado, perverso, que não vê nenhuma desejabilidade no
encantador Salvador; nenhuma beleza nAquele que está estendendo as mãos para
vocês todo o dia, o “primeiro entre dez mil”, o “totalmente desejável”?
Oh, irmãos! se vocês vão embora impassíveis; e, sem dúvida, isso pode acontecer
com centenas de vocês; que necessidade temos de testemunhas? Vocês mesmos são a
única evidência que precisamos de que as almas não convertidas são “mui
numerosas”, e “estavam sequíssimas”.
II.
A segunda lição que
aprendemos a partir desta visão é que a pregação é o instrumento de Deus
para despertar os não convertidos. Todo homem inteligente no meio de vocês
ficou intrigado em um momento ou outro por
uma aparente contradição que atravessa
toda a Bíblia. Está escrito em um lugar: “Ninguém
pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” [João 6:44], e
ainda assim, toda a Bíblia
completamente ordena que todos venham a Cristo. Novamente, está escrito:
“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente” [1 Coríntios2:14], e ainda assim, o que estamos pedindo
continuamente a vocês, senão que recebam as coisas do Espírito de Deus? Mais
uma vez, Deus abriu o coração de Lídia para atender às coisas que Paulo
dizia, o que deixa claro que nenhum coração natural pode compreender, e ainda
assim, não fazemos nada, senão instar essas coisas à vossa atenção. Por natureza,
os seus corações são tão duros quanto diamante, e até mesmo a sua demonstração
não vos fará fugir do inferno; ainda assim, “sabendo o temor que se deve
ao Senhor, persuadimos os homens”. Por natureza, vocês não podem sequer compreender
a beleza e graciosidade do Senhor Jesus; e ainda assim, estamos determinados a
nada saber entre vocês, a não ser “Cristo e este crucificado”. Oh! que grande
contradição há aqui; e ainda assim, com
que facilidade isso é resolvido! Aqueles ossos estavam mortos, secos, sem espírito,
sem vida, sem carne, sem ouvidos para ouvir; no entanto, Deus diz: “Profetiza sobre
estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor ”.
Exatamente assim, meus amigos não convertidos, suas almas são como esses ossos
secos, mortas, secas, sem espírito, sem vida, sem ouvidos para ouvir, sem
coração para atender às coisas que são faladas. Vocês têm suas consciências
embotadas, de forma que nenhuma palavra minha pode movê-los a fugirem da ira
vindoura; vocês têm esses corações ímpios, duros,de modo que nenhuma palavra
minha pode persuadi-los a abraçar o suplicante Salvador, e ainda assim, é pela
loucura da pregação que agrada a Deus salvar os que creem; e embora as nossas
palavras não tenham poder, contudo Deus pode trabalhar de forma toda poderosa através delas; e esta é a Sua
mensagem para vocês: “Ossos secos, ouvi a palavrado Senhor”.
Eu sinceramente rogo àqueles de
vocês que pouco se importam em compreender a pregação da Palavra. Vocês podem
dizer, e dizer com verdade, que a pregação parece um instrumento fraco e
tolo para tal tipo de obra, o próprio Deus a chamou de “a loucura da
pregação” [1 Coríntios 1:21]. Vocês podem dizer, e dizem de fato, que os
ministros são apenas vasos de barro, que são homens, de natureza semelhante
a vossa, o próprio Deus os chamou assim antes de vocês. Mas vocês não
podem dizer que esta não é a maneira de Deus para converter almas; e é com
risco às suas próprias almas que vocês a desprezam. Mantenham-se afastados da
casa de Deus e selem a sua Bíblia, e afastarão de vocês os únicos instrumentos
pelos quais Deus pode chegar às vossas almas moribundas.
III.
A terceira e última lição que
aprendemos a partir desta visão é que a oração deve ser adicionada à pregação,
de outra forma a pregação é vã. Os efeitos produzidos pela profecia de
Ezequiel aos ossos secos foram muito notáveis. Os ossos se achegaram, osso ao
seu osso; a carne, os nervos, a pele veio sobre eles, e os cobriu; mas ainda
não havia neles o espírito, eles estavam tão mortos como sempre. E, oh! quão
semelhantes são aos efeitos que muitas vezes seguem a pregação da Palavra.
Quão frequentemente um povo é aparentemente reformado! Em vez de quebrar o
Sabath, há a observância do Sabath; em vez de embriaguez, há sobriedade; existe
forma de piedade, mas nenhum poder; os ossos, os tendões, a carne e a pele da
piedade estão ali, mas não há nada do sopro vital da piedade. Ah! meus amigos,
não é exatamente esta a forma de nossas congregações atualmente? há abundância
de conhecimento intelectual, mas, ah! onde está o coração humilde que ama o
Salvador? Há abundância de ortodoxia e de argumentação, mas, ah! onde está a fé
simples no Senhor Jesus e amor por todos os santos? Não diz o Salvador quando
Ele olha para baixo, para as nossas Igrejas: “mas não havia neles
espírito”? Oh! então, irmãos, vamos todos e cada um de nós dar atenção ao
segundo comando para o profeta:
“Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito:
Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes
mortos, para que vivam. E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito
entrou neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo”.
Aprendam duas lições a partir disso. Primeiro. Amigos não convertidos, que
corações mortos vocês devem ter; toda a pregação do mundo não pode colocar
a vida neles. Que corações duros vocês devem ter; o martelo mais pesado que nós
podemos erguer não pode quebrá-los. Nós falamos os argumentos mais fortes em
seu ouvido, ainda assim, nem isso tudo lhes moverá. Temos que levantar a nossa
voz, e profetizar ao Espírito; devemos clamar ao Espírito
Todo-Poderoso antes que possamos tocar o seu coração. Tentamos convencê-los do
pecado; demonstramos como vocês quebraram a Lei, e que: “Maldito todo
aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da
lei, para fazê-las” [Gálatas 3:10]; que
vocês devem estar sob a maldição,
que vocês não serão capazes de suportar essa maldição, que esmagou um Salvador
à terra, e vos esmagará até as profundezas do inferno. Vocês estão um pouco impressionados,
e esperamos que o seu coração seja tocado; mas suas impressões são como impressões
na areia quando a maré está baixa, e a próxima maré do mundo apaga tudo.
Tentamos convencê-los da justiça. Nós lhes falamos sobre o amor do Salvador, como
ele excede todo o entendimento; como havia um oceano de amor naquele seio que
nenhuma corda poderia sondar, amor por pecadores perdidos como vocês; como Ele
esteve no lugar dos pecadores, obedecendo à Lei por nós; como Ele sofreu no
lugar de pecadores, levando a maldição por nós. Nós dizemos a vocês que
creiam nEle, e sejam salvos; vocês são derretidos, e lágrimas escorrem por
seus rostos; mas, ah! isso é “como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada,
que cedo passa” [Oséias 6:4].
Ah! Irmãos, que corações duros,
de aço, vocês devem ter, quando tudo o que o homem possa fazer não lhes derreterá.
Seus corações são duros demais para nós; e nós temos que voltar lamentando para o nosso Senhor, dizendo: “Quem
creu em nossa pregação?”. Em todas as outras coisas vocês poderiam ser
persuadidos com argumentos. Se os seus corpos estivessem doentes, poderíamos
persuadi-los a enviá-los ao médico; se vossa propriedade fosse estorvada,
poderíamos convencê-los a serem diligentes por suas famílias. Oh! quão
prontamente vocês nos obedeceriam; mas quando mostramos que vocês são os herdeiros,
alma e corpo, de um inferno eterno, vocês não despertarão de modo algum. Mesmo
se nós pudéssemos mostrar-lhes o próprio Senhor Jesus Cristo, o Salvador sangrante,
suplicante, seus corações ímpios não se apegariam a Ele. Vocês
precisam dAquele que criou os seus corações, para quebrar e dobrar os mesmos.
Então, vocês não irão embora, cada um de vocês, batendo no peito e dizendo:
“Deus, tenha misericórdia de um pecador?”.
Aprendam,
em segundo lugar, irmãos crentes, que necessidade vocês têm de orar. Quando Deus, no capítulo anterior (36) promete
dar um novo coração e um novo espírito a Israel: “tirarei da sua carne o
coração de pedra, e vos darei um coração de carne” [v. 26], acrescenta, no
versículo 37: “Ainda por isso serei solicitado pela casa de Israel, que lho faça”.
E quando Deus promete dar os Gentios a Cristo por Sua herança, Ele apenas promete
isso em resposta à oração: “Pede-me, e eu te darei” [Salmos 2:8]. E
exatamente assim é aqui, quando Ele quer dar vida àqueles cadáveres que
jazem no vale aberto, Sua palavra é: “Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho
do homem”. Oh, irmãos crentes! Que instrumento é este que Deus tem colocado em
suas mãos! A oração move Aquele que move o universo. Oh, homens de fé e
oração! Israelitas, que lutam com Deus, e
prevalecem! Homens retos, justos, cujas orações podem muito em seus efeitos!
Vocês podem ser um pequeno rebanho, porém estejam suplicantes para que não deem
descanso ao Senhor. Oh, orem para que o Espírito “assopre sobre estes
mortos, para que vivam”. E vós, cristãos egoístas, se é que tal contradição
pode existir; vocês, que se aproximam do trono de Deus apenas por si
mesmos; vocês, cujas petições do início ao fim são somente por si mesmos; que não pedem por dons, exceto para a vossa
paz e alegria. Vão e aprendam o que significa: “Mais bem-aventurada
coisa é dar do que receber” [Atos20:35].
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em CristoJesus”
[Filipenses 2:5].
R. M.
M'Cheyne
Dundee,
25 de Dezembro de 1836.
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Traduzido do original em Inglês
The Vision of Dry Bones
By R. M.
M'Cheyne Extraído da obra original, em volume único: The Sermons of the Rev. Robert Murray M'Cheyne Minister of St. Peter's Church, Dundee. Via: Books.Google.com.br Tradução por Camila Almeida Revisão
e Capa por William Teixeira1ª Edição:
Dezembro de 2014Salvo indicação em
contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright ©
1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
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